TRINDADE DO TEMPO, OU UM TORUS

“Trindade do tempo” é um trabalho da Ío — o duo de artistas Laura Cattani e Munir Klamt — que integra o Acervo Artístico do MARGS.

A série de fotografias acompanha o destino de três alianças, duas em ouro e uma em prata, gravadas com a data e o título da obra, lançadas ao mar de um barco pesqueiro, na costa da praia de Garopaba (SC), em maio de 2021. Sua forma circular remete aos ciclos temporais, ao movimento das marés e à infinitude. E os materiais evocam as idealizações da nostalgia e do desejo, com o ouro; e a fugacidade do presente, com a prata.

O trabalho fez parte do projeto virtual e coletivo “Tempo como verbo”, realizado pelo Instituto Cultural Torus entre 2020 e 2021, no contexto da pandemia e das leis emergenciais voltadas ao setor cultural, reunindo diversos artistas e cujos trabalhos posteriormente vieram a ingressar no acervo do Museu.

A EXPOSIÇÃO

Com o objetivo de trazer “Trindade do tempo” à exibição pública revisitando também a experiência do “Tempo como verbo”, a Ío foi convidada pelo MARGS a assumir e conduzir um projeto de curadoria, propondo um processo que partisse da convergência com seu próprio pensamento e práticas artísticas e também com sua atuação como artistas-curadores. 

Além dessas premissas, o delineamento foi o de explorar formatos expositivos não convencionais e mesmo experimentais, acionando também o acervo do Museu. Assim, a partir de obras da coleção do MARGS, foi concebido pela Ío um projeto envolvendo sua produção e de outros artistas, tendo lugar nas Salas Negras, com um modelo dinâmico e estendido no tempo. 

Desse modo, entre dezembro de 2023 e março de 2024, foram realizados 3 movimentos, os dois primeiros resultando em uma nova proposta expositiva, com outras obras e intervenções, sempre em relação aos diversos aspectos presentes em “Trindade do tempo”; e o terceiro trouxe o lançamento do álbum “Sete infinitudes”, do compositor Caio Amon, e a performance “Abissal”, da bailarina Camila Vergara. 

PRIMEIRO MOVIMENTO

Primeiro movimento. MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Salas Negras.

O 1º movimento, que marca a abertura da exposição, apresenta a obra “Trindade do tempo”, da Ío, em diálogo com outros trabalhos do Acervo do MARGS, reunindo as/os seguintes artistas:

Albano Afonso, Anthony Arrobo Veléz, Bruno Borne, Carla Chain, Carlos Fajardo, Dione Veiga Vieira, Dirnei Prates, Ío, Libindo Ferrás, Marina Camargo, Rodolpho Bernardelli.

O 2º movimento de “Trindade do tempo – ou, um Torus”,  [NAUFRÁGIO], nas Salas Negras do Margs, inunda a exposição anterior: obras se perderam, umas estão na escuridão do mar, outras surgem enfrentando a maré (como Sem Título, de André Severo) em uma curadoria que vai, lentamente, destruindo a si mesma. Esta versão traz a instalação [NAUFRÁGIO], realizada por Ío em colaboração com Tiago Gasperin, composta por 12 painéis de led dispostos no espaço, que mostram continuamente frases em Closed Captions, recurso de produtos audiovisuais para acessibilidade de pessoas surdas ou com deficiência auditiva, onde a legenda descreve o som que está acontecendo na cena.

As frases da instalação remetem a descrições do momento de um naufrágio, criando um instante suspenso no tempo. O espaço instalativo passa a ser navegado pelo público que percebe e se detém em cada momento da tragédia descrita como bem entende

Ao operar com descrições puramente textuais, que remetem diretamente à descrição dos sons dos acontecimentos, [NAUFRÁGIO] abre um espaço de criação compartilhada com o público. Numa operação sinestésica, a obra instiga a mente do observador a produzir sons, imagens, cheiros e sensações. Negando a apresentação de imagens se cria uma tela individual onde cada pessoa pode criar sua própria versão de uma narrativa a partir dos fragmentos disponíveis.

O 3º movimento traz o lançamento de “Sete Infinitudes”, um álbum desenvolvido por Caio Amon, em colaboração com o duo de artistas Ío em 2021, como parte do projeto “O Tempo como Verbo”. Este trabalho musical é uma ode a locais e momentos onde a história da vida, da cultura e da arte se transformou, moldando nossa identidade humana. Desde a travessia Atlântica até as fontes hidrotermais no oceano profundo, cada uma das sete faixas evoca e recria cenários, como uma casa em Leipzig no século XVIII, entre outros. Para os artistas, as músicas deste álbum representam a fronteira entre o inanimado e o sopro da vida.

O lançamento de “Sete Infinitudes” aconteceu nas Salas Negras do MARGS, em conjunto com a a performance “Abissal” da bailarina Camila Vergara, sincronizada com a execução do álbum, oferecendo uma experiência sensorial completa ao público.

SEGUNDO MOVIMENTO

Segundo movimento. MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Salas Negras.

Ao convocar o pensamento e as práticas artísticas para a ativação e abordagem do acervo, o projeto “Trindade do tempo – ou, um Torus” se insere no objetivo mais amplo do MARGS de explorar processos curatoriais voltados à experimentação de estratégias expositivas em contexto museológico, como parte também das políticas institucionais de aquisição e divulgação das obras do Museu.

O projeto dá ainda prosseguimento ao programa “Poéticas do agora”, que tem por objetivo destacar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.

As exposições anteriores pelo programa foram “Bruno Borne — Ponto vernal” (2019-2020), “Bruno Gularte Barreto — 5 Casas” (2021), “Estêvão da Fontoura: DESOBECIÊNCIA – Arte e ciência no tempo presente” (2021), “Denilson Baniwa — INÍPO: Caminho de transformação” (2021-2022), “Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar” (2022) e “Camila Proto — TERRALÍNGUA” (2023).

TERCEIRO MOVIMENTO

Terceiro movimento. MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Salas Negras.

OS CURADORES

Ío (Porto Alegre, 2003) é o pseudônimo do duo de artistas Laura Cattani e Munir Klamt. Suas obras nascem de reflexões abarcando diversas áreas e tomam forma por meio de desenhos, fotografias, vídeos e instalações com materiais simbólicos. Expôs em diversas cidades do Brasil, bem como Uruguai, Argentina e França. Sua obra recebeu diversas indicações e prêmios, está em coleções particulares e compõe o acervo de instituições como o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Fundação Vera Chaves Barcellos, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (RS), Coleção Casa Niemeyer (DF), Museu de Arte do Rio de Janeiro (RJ) e Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (PE).

Laura Cattani (Les Lilas/França, 1980) é artista, curadora, pesquisadora, com mestrado e doutorado em Poéticas Visuais pelo PPGAV/IA/UFRGS e pós-doutorado no PPGAV/UnB. Foi contemplada com bolsa Capes em sua formação de mestrado e doutorado, bem como em temporada de pesquisa na França como parte do Programa de Doutorado Sanduíche na UPJV. Sua pesquisa de doutorado foi indicada ao Prêmio Capes de Tese. Foi membro do colegiado setorial de Artes Visuais. Lecionou no Centro de Artes da UFPel entre 2020 e 2023, onde coordenou ações de extensão da Galeria A Sala. Atuou como curadora adjunta da 13a Bienal do Mercosul, sob curadoria geral de Marcello Dantas.

Munir Klamt (Porto Alegre/RS, 1970) é artista, curador, professor e pesquisador com mestrado e doutorado em Poéticas Visuais pelo PPGAV/IA/UFRGS e pós-doutorado no PPGAV/UnB. Sua tese, Metamedidas, recebeu Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2017. Lecionou na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), onde coordenou projetos de pesquisa e extensão e foi representante do Instituto de Letras e Artes no Comitê de Ciência, Tecnologia e Inovação – CCTI, órgão assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPESP. Atualmente leciona na UFRGS na área de Arte e Tecnologia, onde coordena a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo. Atuou como curador adjunto da 13a Bienal do Mercosul, sob curadoria geral de Marcello Dantas.